domingo, abril 03, 2011

Quero


Quero a imprecisão genuína do bebê

E a liberdade singular da gaivota

Aquele sonho que um dia joguei fora

Quero o aprendizado do soldado que voltou da guerra

 

Quero alguém que me diga o que não sei

E me mostre com sutileza o caminho que larguei

Quero o insistir incansável da criança

E a leveza que o artesão forma a sua obra

 

Quero a firmeza do mar

E a complexidade dos ventos

Quero o que nem nome tem

Quero apenas o que me convém

 

E o não me convém.

Infinitos e íntimos desejos fazem parte de mim

Deixam-me sempre afim

A fim de ir, de fugir, de consumir

 

Quero a insistência do velho coração em bater

E a realização da mulher ao olhar seu bebê

Quero o infinito e tudo o que vem depois disso

Os paralelos que se encontram nesse infinito

 

Quero o realizar do sonho

E o desenrolar dos contos

Quero o toque da brisa em meu rosto

E um carinho dengoso

 

Quero ser as ondas do mar

Por onde os barcos vão navegar

Quero a alegria extravagante daquele que lutou e saiu vencedor

E a força daquela menina que sorrir em meio à dor

 

Quero o orgulho humilde do pai ao falar dos méritos de seu filho

E o brilhar dos olhos do menino que foi reconhecido

Quero uma platéia eufórica

A gritar por mim

 

Quero a insanidade sã dos loucos

E a amiga melancolia

Quero infinitamente explicações

E conjunções

 

Quero a epifania.

A súbita sensação

De que tudo está

Onde, realmente, deveria está.

                                                                                  Morgana Medeiros

 

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