quinta-feira, abril 14, 2011

Divã


Minha vida, às vezes, parece um eterno Divã

Conto fatos (ouço outros)

Analiso atos

Me entrego ao oposto


Se o vídeo fosse visto antes

Se o fim fosse conhecido antes

E se o mundo me desse uma chance

E me tirasse desse transe


Só quero um amante a minha procura

Quero aquele que me escuta

Que não me julga

Me adora, por me, aqui e agora


Bom mesmo é Bono

Que te mostra que não precisas de dono

Mas o ser humano não sabe

Só sente... Só mente.


Onde foi aquela euforia?

Onde está aquela alegria?

Esqueci aquela rebeldia.

Já não sinto mais a linha


Sou mais sozinha

Do que o espermatozóide vencedor

Rejeito a utopia

Como remédio faz com a dor


Agarro o passado

Dou um trago

Fico um caco

Depois coleciono os retalhos


Minha coleção é vasta

Ao queimar só dá fumaça

Fumaça do passado

Do presente trancado num quarto (tão escuro)


Junto os fatos

Conto os cacos

Faço um trato

Fecho contrato.

Morgana Medeiros

domingo, abril 10, 2011

Sentimentos


Os sentimentos são vitais

Uns, estranhamente, surgem

Outros, drasticamente, somem

E ainda, uns, que simplesmente, são perpétuos

 

Existe aquele, traquina, que vem e nem avisa

E outros que se vão com um sopro.

Aquele que encena a sua morte

Mas no outro dia ressurge, confundindo a sua sorte

 

Existem uns que são vitalícios

Que parecem vicio.

Ah... E aquele que vem de repente?!

Que avassala tudo que ver em sua frente

 

Aquele que é tão bem-vindo.

E outros que nos faz correr

Como corre de um bicho

Aqueles tão necessários.

 

Existem uns que são tão fiéis

Outros que são cruéis

Uns que desejamos todos os dias

E outros que não queremos como companhia.

                                                                                         Morgana Medeiros

terça-feira, abril 05, 2011

Inspirações


É o abrir do leque

E o lento desaceleramento

É o fechar dos olhos

E a percepção aguçada

 

É o olhar além

É o ilusório tão lógico

E o interpretar tão próprio

É o feixe cintilante a brilhar

 

É o extravasar

Que faz memorar

É a rotina

O dia-a-dia

 

É o enlaçar e o desatar

É a fotografia avistar

É o ser desnudar

É a gaveta revirar e os cômodos revistar

 

É o fechar dos olhos

E o abrir o coração

É o exercício da razão

De mãos dadas com a emoção


É o admirar o mar

É o deitar na grama

É o ouvir da trama

E o gritar que reclama

 

É o chutar da água

O dançar na chuva

É o sorriso que chora

É o choro que sorrir

 

É o se permitir

E se entregar sem decidir

Se mais tarde vais dormir

É o delinear do que se sente, é o expressar da alma latente.

Morgana Medeiros

domingo, abril 03, 2011

Quero


Quero a imprecisão genuína do bebê

E a liberdade singular da gaivota

Aquele sonho que um dia joguei fora

Quero o aprendizado do soldado que voltou da guerra

 

Quero alguém que me diga o que não sei

E me mostre com sutileza o caminho que larguei

Quero o insistir incansável da criança

E a leveza que o artesão forma a sua obra

 

Quero a firmeza do mar

E a complexidade dos ventos

Quero o que nem nome tem

Quero apenas o que me convém

 

E o não me convém.

Infinitos e íntimos desejos fazem parte de mim

Deixam-me sempre afim

A fim de ir, de fugir, de consumir

 

Quero a insistência do velho coração em bater

E a realização da mulher ao olhar seu bebê

Quero o infinito e tudo o que vem depois disso

Os paralelos que se encontram nesse infinito

 

Quero o realizar do sonho

E o desenrolar dos contos

Quero o toque da brisa em meu rosto

E um carinho dengoso

 

Quero ser as ondas do mar

Por onde os barcos vão navegar

Quero a alegria extravagante daquele que lutou e saiu vencedor

E a força daquela menina que sorrir em meio à dor

 

Quero o orgulho humilde do pai ao falar dos méritos de seu filho

E o brilhar dos olhos do menino que foi reconhecido

Quero uma platéia eufórica

A gritar por mim

 

Quero a insanidade sã dos loucos

E a amiga melancolia

Quero infinitamente explicações

E conjunções

 

Quero a epifania.

A súbita sensação

De que tudo está

Onde, realmente, deveria está.

                                                                                  Morgana Medeiros