Sedento como o "talvez".
Rico como o "se" .
Sinto cada passo de uma vez.
D'uma vez!
Meus espíritos encarnam-me, possuem-me.
E perco-me de mim.
Meus deuses e demônios se divertem unidos.
Contra mim. Em mim.
Sou santa e bruxa.
Sou dor e cura.
Sou lança e carinho.
Sou samba e chorinho.
Sinto-me na divisa, na fronteira entre mim e mim.
Um mais real que outro. Um mais irreal que outro.
Submersa flutuo.
Quando flutuo estou submersa.
Sou o verso mais negro e claro que já escrevi.
E o som mais doído e suave que senti.
Sou tudo e nada em mim.
Sou assim e assim. Não sei sem mim.
Ô santo Deus, as portas põem-se a cuspir brisas cruéis em
meu rosto.
As pontes insistem em romper, quando estou quase lá.
A brasa costuma esfriar, quando o que quero é queimar.
As fadas costumam sumir quando às sinto tão perto de mim.
Santas palavras... Musas minhas.
E também minhas farpas.
Que me dão o céu e uma afiada espada na alma.
Pobre, imensa, alma!
Palavras que encarnam meus espíritos.
Espíritos que encarnam minha alma.
Minha alma que, por vezes, cala.
Por não encontrar as palavras.
Morgana
Medeiros